domingo, 20 de setembro de 2015

"MÃE CORAGEM E SEUS FILHOS": NÃO DEIXEM A NOSSA SENHORA DO TEATRO SEM CASA

Há alguns meses atrás, fiz uma postagem sobre a aula de teatro que transformara a minha vida. Não sabia até então, que realmente o teatro era algo imprescindível para mim. Até aquele momento, achei que era tão somente um sonho como tantos outros que movem nossa vida. Sempre tive certeza de que um dia faria teatro. A mesma certeza que me alimentou a seguir em minha vida acadêmica causídica. Essas sempre foram as minhas duas paixões. No fim do ano de 2014, conversando com umas das pessoas que mais sigo conselhos, depois da minha mãe, Marcos Araújo (sempre você!), resolvi que era hora de por em prática esse sonho. Agora, depois de tantas tormentas, poderia me dar ao luxo de substituir a palavra “objetivos” por “sonhos”. O teatro era um deles.

E nessa procura por um curso bacana, ouvi de um amigo, Rodrigo Guedes, ator que já está na estrada há algum tempo, o seguinte: “Já ouvi falar muito bem de uma escola chamada Nossa Senhora do Teatro. Confesso que não conheço, mas já me falaram muito bem dela.” Então, por curiosidade procurei na internet e achei o site www.nossasenhoradoteatro.com. Para minha sorte (ou destino) estava em época de inscrição para o curso de “Preparação do Ator”, quando arrisquei-me e graças a Deus, fui um dos selecionados.

Falar sobre o histórico de sucesso desse empreendimento artístico, é correr o risco de ser escasso em minhas palavras. Ou até mesmo injusto, se eu permitir que a minha pretensão seja suficiente para qualificá-la. Existem inúmeros “tratados internáuticos” que podem facilmente descrever o que significa aquele templo de arte. Inclusive, um dos dicionários virtuais mais sérios e famosos, tem essa descrição: https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_Nossa_Senhora_do_Teatro.

Pode parecer uma propaganda gratuita em um blog particular, e é. Não sou professor, não sou funcionário. Não sou garoto propaganda, nem membro de nenhum conselho da escola. Sou aluno ator de lá. Como todos os outros 300, que estudam comigo e em outras turmas e oficinas que a escola ministra. Com muito orgulho. Não pensei que um curso tão barato (financeiramente falando), tivesse uma proposta artística e cultural tão rica. Fui apenas para ter experiência de palco. E agora, há poucos meses de minha formatura, saio com mais um capítulo na minha experiência de vida.

Recentemente, republiquei a tal postagem baseada na obra do nosso professor/diretor Ricardo Andrade Vassíllievitch, “A Porta”, e uma pessoa escondida por um codinome “Sherlock Hommes” (que falta de imaginação), fez um comentário que preferi não excluir. Como meu blog é aberto, e aprendi nessa maravilhosa escola que nem sempre as críticas são boas, mantive. Recentemente, nessa mesma escola, que o colega virtual julga inapropriadamente, tivemos uma aula sobre a obra e carreira de Ariane Mnouchkine, artista que dá nome à um dos espaços em que são encenadas peças no teatro-escola.  Sua produções no Théâtre du Soleil são frequentemente encenadas em espaços diferentes como ginásios, celeiros, porque ela não gosta de estar confinada a palcos tradicionais ou ao palco italiano. Geralmente seus atores vestem o figurino ou colocam sua maquiagem em frente aos olhos do público. Seu trabalho de produção teatral tem como metodologia o processo colaborativo, que procura construir o espetáculo como resultado da interferência de todos os membros da companhia.

Isso tudo quer dizer o seguinte: a pessoa que não conhece a metodologia da escola a qual me refiro, não tem qualquer propriedade de julgá-la. Lá, aprendemos o coletivo. E nesse processo não há espaço para a tal arrogância mencionada pelo “contribuidor de opiniões virtual”. O que existe é a exigência pela disciplina e dedicação. Que muitas das vezes, quando temos o ego inflado (essa é uma das minhas patologias e que a escola tem ajudado e muito a mudar), nos sentimos no direito de classificar de forma totalmente deturpada.

Esclarecimento dado, voltemos à escola e sua atual situação, motivo deste post e de meu apelo. Há algumas semanas, a escola recebeu uma notificação de despejo. Em um período de 30 dias terá que se retirar do lugar que ocupa há cerca de cinco anos. Espaço conquistado pela sua pregressa história de sucesso e inclusão social. Espaço que a fez receber em 2009, dois importantes prêmios: o título de Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura e pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro e o prêmio UNICEF “Tempos e espaços para aprender” ficando entre as 20 melhores Instituições culturais do Rio de Janeiro, só para citarmos alguns.

A possível saída daquele espaço físico, não mata apenas o sonho dos seus colaboradores, professores, diretores e principalmente alunos. Mas é, mais um, soco no estômago dessa sociedade tão faminta de boas iniciativas de cultura inclusiva. Lá temos todas as classes, mas principalmente e precipuamente, os que menos tem condições de pagar um curso desses, na maioria das vezes tão caro. O poder público não nos dá o direito de aprendermos na escola, como a própria Europa o faz, e ainda nos tira a possibilidade de fazê-lo, mesmo quando membros apaixonados pela arte, praticamente se doam para manter um projeto desse vulto.

Você que está lendo, não nos deixe sem casa. Ajude a compartilhar. Se mobilize conosco. Se mobilize por uma sociedade melhor. Ao pensarmos no fazer artístico e suas peculiaridades, podemos rapidamente identificar duas conexões com a causa inclusivista. E essa é uma das filosofias da NST. Primeiramente, seu desprendimento do rigor quanto a paradigmas pré-estabelecidos comentado anteriormente, abre portas àqueles cujo desempenho  é comprometido por algum tipo delimitação. Para se produzir uma obra de arte de qualidade, o artista não depende, necessariamente, de um traço ou de uma pincelada tão precisos e lineares como os de um projetista industrial. Existe espaço para o gestual, o aparentemente impreciso. Em segundo lugar, o campo das artes pressupõe a exposição, a relação direta entre o artista e seu público. Ao incentivarem iniciativas artísticas acessíveis , estamos, junto coma escola Nossa Senhora do Teatro, também colaborando para a disseminação de algumas das condições que, como vimos, dão sustentação a qualquer pretensão de se construir uma sociedade inclusiva.

E aí, leitor? Vai nos deixar sem casa? Faça com que essas palavras, mas principalmente, o trabalho da Escola Nossa Senhora do Teatro, chegue ao maior número de ouvidos e consigamos, juntos, continuar contribuindo para uma sociedade melhor. Viva a arte!

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