E assim
se foi mais um carnaval. Quase um mês depois, resolvi fazer minha postagem
porque precisei descansar um pouco, por o sono e os sonhos em dia. E confesso
que esse carnaval, foi realmente de sonhos. Quem vive da festa de Momo, ou para
ela, como eu, sabe que o carnaval não se limita ao mês de fevereiro. Quem me
dera poder viver e sobreviver dessa arte, dessa festa. Mas não é o caso. Não
ainda, talvez...
Na
minha tradicional postagem de fim de ano, em 2013, elegi o ano de 2014 como o
ano da "celebração". Sobre 2015, cheguei à conclusão de que meu ano anterior
tinha sido “visceral”. Foi realmente um ano de muitas mudanças, novos projetos,
planos retomados... Mas não imaginei que esse carnaval seria tão intenso. E a
tal visceralidade ainda estaria por se tornar mais viva...
Tudo
começou, como sempre, em outubro, época em que a Cidade do Samba, aqui no Rio
de Janeiro, começa a ser mais frequentada ainda. É nesse período que começam as
inscrições para as escolas de samba para desfilarmos nos mais diversos
segmentos e todos os sons se fundem: alegorias e alas coreografadas, alas das
comunidades, o barulho dos ferros sendo soldados, martelos batendo nas madeiras
para que meses depois, todas aquelas estruturas tomem forma de fantasia e sonho
no maior espetáculo a céu aberto da Terra. Essa é
a minha terapia desde que deixei de fazer análise.
Saio
dos ensaios tarde, tenho que acordar cedo no dia seguinte para trabalhar, mas,
mesmo estando exausto, estou feliz. Leve. Extravaso todos os meus aborrecimentos
em prol da arte. Uma arte anônima e marginalizada por muitos. Mas que traz uma
imensa felicidade a tantos outros que participam ativamente dela. E é essa
ultima parte que, de fato, me interessa: o bem estar e a felicidade. Esse
texto não tem cunho de crítica, de falar sobre uma escola ou outra, condenar ou
ir a favor de um desfile ou outro. Esse texto é para expressar meu amor, em
toda a plenitude por essa festa.
Mas
esse carnaval... Bem, esse carnaval foi realmente visceral. Grupos no whatsup
se formaram e se extinguiram. Amizades foram conquistadas, algumas descobri que
não eram de verdade e outras, fortaleci. Foram tantos encontros felizes, que as
barreiras da Sapucaí se romperam e trouxe comigo, pessoas que quero continuar
trazendo. Amizades sinceras e momentos tristes que vivemos e conseguimos provar
o quão unidos fomos. Isso não vai se apagar. Isso não vai ser esquecido.
Esse
ano, depois de quase 10 anos de Sapucaí e 34 de carnaval (sim, porque gosto de
carnaval desde que nasci) foi um dos mais especiais. E olha que foi a primeira
vez que não estive desfilando no “Sábado das Campeãs”! Mas desfilei na minha
escola do coração, a Mocidade Independente de Padre Miguel... E numa licença poética, me permito fazer um trocadilho:
“E eu
fiquei
No meio do povo, espiando
Minha escola
Perdendo ou ganhando
Mais um carnaval...”
No meio do povo, espiando
Minha escola
Perdendo ou ganhando
Mais um carnaval...”
Foi
mágico ouvir os fogos na hora que a minha escola aportava na Sapucaí. Olhei
para o lado e vi um amigo querido, Rogério, chorando. Chorei junto. Nos
abraçamos. Era nossa escola! Renascendo... Tantas foram as críticas, tantos
foram os insultos. Mas estávamos dentro de uma bolha, tal qual a imaginária que
o nosso coreógrafo, Marcelo Sandryni, nos ensinou... Não víamos nada de ruim.
Era uma energia tão boa, que saímos ovacionados da Sapucaí. Esse foi o maior
prêmio. “A campeã voltou”, era o que escutávamos na passagem de cada setor. E
era isso, só isso, naquele momento, que nos importava.
Dias
antes, vivi um dos momentos mais (senão o mais) felizes da minha vida, quando desfilei na Paraíso do Tuiti (vide a fot que ilustra essa postagem). E esse
foi proporcionado por duas pessoas muito especiais pra mim: minha idolatrada
coreógrafa Andréa de Cássia e um sensacional carnavalesco. Um “tal de” Jack
Vasconcelos. Já havia ouvido falar em grandes estrelas da arte, grandes gênios
do carnaval e suas figuras mitológicas. Sim, esses profissionais são quase mitos.
Mas quando se tem a oportunidade de conhecer, de perto, pessoas como esses
dois, eu me confundo sobre o que é de verdade um mito. As maiores estrelas não
se põem por conta própria em um pedestal para serem adoradas, elas são postas
por seus admiradores. Essa dupla é de uma simplicidade tão grande, que até hoje
não consigo distinguir se essa maneira igualitária de tratar as pessoas
consegue ainda ser maior que o talento inquestionável que eles tem. E juntos,
são uma explosão. Até hoje estou tratando uma distensão muscular no ombro. Meu
pescoço ainda tem marcas de queimaduras dos holofotes. E meu coração lhes será
também grato. Mesmo que as dores passem, as marcas desapareçam, não serei mais
o mesmo graças a vocês.
Resolvi
retomar projetos de vida que estavam escondidos lá no fundo. Coisas que eu
achava que não poderia fazer, foram resgatadas por vocês, Andréa e Jack, sem
sequer saberem. Me ajudaram só pelo fato de me confiarem uma oportunidade a
reviver sonhos que tinha enterrado na racional desesperança. E à vocês, mais
uma vez, minhas homenagens e meu muito obrigado.
Esse
ano me trouxe também um encontro de almas. Chama-se Denise Carla. Editora,
fundadora, produtora, escritora, dona, presidenta e sei lá mais o que, do site
“Papo de Samba” e do grupo carnavalesco “Me Beija Félix”. Por intermédio do meu
fiel escudeiro Marcos Araújo, conheci essa mulher e seus "colaboradores-pimpolhos-amigos-familiares", que logo me acolheram e
generosamente me deixaram fazer parte daquela família. Não podia ser diferente.
Para estar entre os amigos dela, tinham que ser pessoas especiais como ela. Que
o mundo se contamine de Denises. Esta sim, traz boa energia acompanhando seu
corpo como se fosse nuvem. E chove em cima dos outros liberando um carga enorme
de boas sensações.
Mas
conheci outros amigos. Reencontrei alguns de anos anteriores. Os vi nus. Outros
tão cobertos que nem o rosto reconhecia, pela tinta da maquiagem. Mas estávamos
presos em sintonia pelo coração. Os que quero para sempre, já sabem de sua
importância. Já disse isso a eles. Outros tantos, foram felizes encontros, que
quem sabe, oportunamente vamos desfrutar de novos trabalhos juntos. Assim gira
a roda do carnaval...
E vamos
começar o ano, não é? Mês que vem retomo meu projeto e volto a escrever minha
minissérie autoral. Ainda faltam cinco capítulos, mas há outros tantos a serem
escritos e vividos. Há o desconhecido que ainda não vejo. Com ele, está,
sempre, a minha esperança por dias melhores. Mas não vamos deixar o apito se
calar. Não vamos deixar os tamborins sem fazer barulho. Daqui há pouco começa
tudo de novo, mas antes de me despedir até o próximo "post"... antes de me
despedir...
“Deixo
ao sambista mais novo,
O meu
pedido final:
Não
deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar...”