domingo, 15 de março de 2015

MAIS UM CARNAVAL...

E assim se foi mais um carnaval. Quase um mês depois, resolvi fazer minha postagem porque precisei descansar um pouco, por o sono e os sonhos em dia. E confesso que esse carnaval, foi realmente de sonhos. Quem vive da festa de Momo, ou para ela, como eu, sabe que o carnaval não se limita ao mês de fevereiro. Quem me dera poder viver e sobreviver dessa arte, dessa festa. Mas não é o caso. Não ainda, talvez...

Na minha tradicional postagem de fim de ano, em 2013, elegi o ano de 2014 como o ano da "celebração". Sobre 2015, cheguei à conclusão de que meu ano anterior tinha sido “visceral”. Foi realmente um ano de muitas mudanças, novos projetos, planos retomados... Mas não imaginei que esse carnaval seria tão intenso. E a tal visceralidade ainda estaria por se tornar mais viva...

Tudo começou, como sempre, em outubro, época em que a Cidade do Samba, aqui no Rio de Janeiro, começa a ser mais frequentada ainda. É nesse período que começam as inscrições para as escolas de samba para desfilarmos nos mais diversos segmentos e todos os sons se fundem: alegorias e alas coreografadas, alas das comunidades, o barulho dos ferros sendo soldados, martelos batendo nas madeiras para que meses depois, todas aquelas estruturas tomem forma de fantasia e sonho no maior espetáculo a céu aberto da Terra. Essa é a minha terapia desde que deixei de fazer análise.

Saio dos ensaios tarde, tenho que acordar cedo no dia seguinte para trabalhar, mas, mesmo estando exausto, estou feliz. Leve. Extravaso todos os meus aborrecimentos em prol da arte. Uma arte anônima e marginalizada por muitos. Mas que traz uma imensa felicidade a tantos outros que participam ativamente dela. E é essa ultima parte que, de fato, me interessa: o bem estar e a felicidade. Esse texto não tem cunho de crítica, de falar sobre uma escola ou outra, condenar ou ir a favor de um desfile ou outro. Esse texto é para expressar meu amor, em toda a plenitude por essa festa.

Mas esse carnaval... Bem, esse carnaval foi realmente visceral. Grupos no whatsup se formaram e se extinguiram. Amizades foram conquistadas, algumas descobri que não eram de verdade e outras, fortaleci. Foram tantos encontros felizes, que as barreiras da Sapucaí se romperam e trouxe comigo, pessoas que quero continuar trazendo. Amizades sinceras e momentos tristes que vivemos e conseguimos provar o quão unidos fomos. Isso não vai se apagar. Isso não vai ser esquecido.

Esse ano, depois de quase 10 anos de Sapucaí e 34 de carnaval (sim, porque gosto de carnaval desde que nasci) foi um dos mais especiais. E olha que foi a primeira vez que não estive desfilando no “Sábado das Campeãs”! Mas desfilei na minha escola do coração, a Mocidade Independente de Padre Miguel... E numa licença poética, me permito fazer um trocadilho:

“E eu fiquei
No meio do povo, espiando
Minha escola
Perdendo ou ganhando
Mais um carnaval...”

Foi mágico ouvir os fogos na hora que a minha escola aportava na Sapucaí. Olhei para o lado e vi um amigo querido, Rogério, chorando. Chorei junto. Nos abraçamos. Era nossa escola! Renascendo... Tantas foram as críticas, tantos foram os insultos. Mas estávamos dentro de uma bolha, tal qual a imaginária que o nosso coreógrafo, Marcelo Sandryni, nos ensinou... Não víamos nada de ruim. Era uma energia tão boa, que saímos ovacionados da Sapucaí. Esse foi o maior prêmio. “A campeã voltou”, era o que escutávamos na passagem de cada setor. E era isso, só isso, naquele momento, que nos importava. 

Dias antes, vivi um dos momentos mais (senão o mais) felizes da minha vida, quando desfilei na Paraíso do Tuiti (vide a fot que ilustra essa postagem). E esse foi proporcionado por duas pessoas muito especiais pra mim: minha idolatrada coreógrafa Andréa de Cássia e um sensacional carnavalesco. Um “tal de” Jack Vasconcelos. Já havia ouvido falar em grandes estrelas da arte, grandes gênios do carnaval e suas figuras mitológicas. Sim, esses profissionais são quase mitos. Mas quando se tem a oportunidade de conhecer, de perto, pessoas como esses dois, eu me confundo sobre o que é de verdade um mito. As maiores estrelas não se põem por conta própria em um pedestal para serem adoradas, elas são postas por seus admiradores. Essa dupla é de uma simplicidade tão grande, que até hoje não consigo distinguir se essa maneira igualitária de tratar as pessoas consegue ainda ser maior que o talento inquestionável que eles tem. E juntos, são uma explosão. Até hoje estou tratando uma distensão muscular no ombro. Meu pescoço ainda tem marcas de queimaduras dos holofotes. E meu coração lhes será também grato. Mesmo que as dores passem, as marcas desapareçam, não serei mais o mesmo graças a vocês.

Resolvi retomar projetos de vida que estavam escondidos lá no fundo. Coisas que eu achava que não poderia fazer, foram resgatadas por vocês, Andréa e Jack, sem sequer saberem. Me ajudaram só pelo fato de me confiarem uma oportunidade a reviver sonhos que tinha enterrado na racional desesperança. E à vocês, mais uma vez, minhas homenagens e meu muito obrigado.

Esse ano me trouxe também um encontro de almas. Chama-se Denise Carla. Editora, fundadora, produtora, escritora, dona, presidenta e sei lá mais o que, do site “Papo de Samba” e do grupo carnavalesco “Me Beija Félix”. Por intermédio do meu fiel escudeiro Marcos Araújo, conheci essa mulher e seus "colaboradores-pimpolhos-amigos-familiares", que logo me acolheram e generosamente me deixaram fazer parte daquela família. Não podia ser diferente. Para estar entre os amigos dela, tinham que ser pessoas especiais como ela. Que o mundo se contamine de Denises. Esta sim, traz boa energia acompanhando seu corpo como se fosse nuvem. E chove em cima dos outros liberando um carga enorme de boas sensações.

Mas conheci outros amigos. Reencontrei alguns de anos anteriores. Os vi nus. Outros tão cobertos que nem o rosto reconhecia, pela tinta da maquiagem. Mas estávamos presos em sintonia pelo coração. Os que quero para sempre, já sabem de sua importância. Já disse isso a eles. Outros tantos, foram felizes encontros, que quem sabe, oportunamente vamos desfrutar de novos trabalhos juntos. Assim gira a roda do carnaval...

E vamos começar o ano, não é? Mês que vem retomo meu projeto e volto a escrever minha minissérie autoral. Ainda faltam cinco capítulos, mas há outros tantos a serem escritos e vividos. Há o desconhecido que ainda não vejo. Com ele, está, sempre, a minha esperança por dias melhores. Mas não vamos deixar o apito se calar. Não vamos deixar os tamborins sem fazer barulho. Daqui há pouco começa tudo de novo, mas antes de me despedir até o próximo "post"... antes de me despedir...

“Deixo ao sambista mais novo,
O meu pedido final:
Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar...”