terça-feira, 28 de julho de 2015

Minha Vida: Capítulo 5: "VERDADES SECRETAS"

Antes de meu “CORAÇÃO DE ESTUDANTE” começar a tomar forma, como a alusão feita no último capítulo 4, algo remoía em minha cabeça de que aquele não era o momento dessa postagem. Não havia ainda o exorcismo das mazelas no meu renascimento. Minhas palavras até aqui foram tão doces, de tanta luta, de tanta coisa bonita. Mas sempre disse, desde o começo, que não queria ser exemplo de nada para ninguém. As circunstâncias é que tornaram meu relato belo e emocionante. Mas eu também tive e tenho, até hoje, meu lado punk. Então, “ANOS REBELDES” e “CORAÇÃO DE ESTUDANTE” foram arquivados para dar lugar às minhas “VERDADES SECRETAS”.

Adoro me sentir dono das rédeas e mudar as coisas ao meu bel prazer e interesse. Não gosto de ser dirigido ou chefiado por ninguém, tampouco aceitar críticas pelo que entendo que é o melhor. Eu me basto. “E isso basta”. Tal qual os autores de novela, que tanto amo. Acho admirável, às vezes, certos comportamentos intransigentes, petulantes. Dá um sentido de força, sabe? E assim foram algumas situações que aconteceram na minha vida. A candura do meu sorriso às vezes dá lugar a um olhar e sentimentos sombrios que eu mesmo tenho medo de revelar. Na verdade, a vida me faz ter que engolir imensos sapos, diariamente, para domar meu jeito impulsivo e sufocar minha vaidade aflorada. Por isso, hoje, aceito ser dirigido e chefiado. Muitas das vezes obedeço mesmo discordando. Faz parte do jogo da vida. Escolhi estar nele.

Mas não pensem que sou perverso, problemático ou mau caráter por isso. Basta lerem (ou relerem) os capítulos anteriores. Sou humano, apenas. Tenho defeitos (inúmeros). Falhas (infinitas). Segredos (ocultos). Como você que está lendo esse capítulo agora. Não pense que és melhor do que eu, porque irá ler parte de meus sentimentos ruins. Você: leitor, amigo, colega, curioso, seguidor, seja o que for, também tem as suas VERDADES SECRETAS. Aquelas que ninguém (ou quase ninguém) sabe. Então, esse relato é para pensares. Refletires. Para onde e para quem tens apontado seu dedo.

Em meio ao turbilhão de sofrimento que vivi em minha infância e adolescência, o sentimento mais purulento que senti foi a inveja. Sim. Era invejoso. Inclusive em 2018, um dos meus projetos é falar sobre os sete pecados capitais, de uma maneira que nem nós percebemos que essas atitudes habitam em nosso dia-a-dia. Eu era feio, preto, pobre, cicatriz no rosto, pernas tortas, cabelo crespo e sem corte, corpo magro demais, testa grande demais. Enfim, um monstrinho... Me pego sorrindo debochado no momento que escrevo isso. Mas é a mais pura verdade. Nunca fui uma criança bela. Invejava meus irmãos por isso. Vítor e Felipe sempre foram bonitos. Sempre recebiam elogios dos outros. E eu não. Puxei todas as características ruins do meu pai. Minha mãe tinha cabelos lisos e olhos verdes. Queria ser como ela, mas foi meu irmão mais velho quem herdou esse DNA. Como uma pessoa cheia de defeitos poderia ter nascido regido pelo Sol, signo de Leão? Um dos mais vaidosos do zodíaco? Crendo ou não em astrologia, tenho quase todas (senão todas) as características desse signo.

No colégio, detestava os garotos que eram mais belos que eu e que faziam sucesso com as meninas. Mais bem vestidos e que tinham dinheiro para comprar lanche. Queria ser como eles. Ter o que eles tinham. Queria aparecer de qualquer maneira e, na maioria das vezes, era achincalhado. Crianças são puras de sentimentos. Tão puras que são cruéis. Não tem limites sobre a força de suas palavras se não forem educadas para isso. Humilham sem dó. E eu fui muito humilhado. Minhas roupas escassas e meu único kichute (aquele sapato preto de travas, que trançávamos no calcanhar) eram repetidos em várias ocasiões: festas de aniversário, festas da escola, formatura... Sempre o mesmo sapato. E eles reparavam. E zombavam. Até que um dia, minha mãe que passava roupa para umas senhoras da minha rua para completar o dinheiro das despesas, ganhou uma bolsa cheia de roupas e sapatos. Nela tinha um bamba!!! Aqueles tênis brancos que faziam contraponto aos kichutes antigamente (leia-se: pobres=kichute, riquinhos=bamba)? Bingo! Agora eu iria ostentar um bamba no colégio! Só que o tênis era dois números maior que o meu. Frustração. Eu tinha que usar aquele tênis de qualquer jeito e minha mãe já sabendo das minhas intenções me preveniu: “Nada de usar isso pra escola garoto, vai ficar parecendo um palhaço!” Eu contrariando, acordei mais cedo um dia, enchi o tênis de papel higiênico e pus o calçado. Dito e feito! A primeira frase que ouvi foi da professora: “Nossa, tão pequenininho com um pezinho tão grande!” Até hoje não sei se ela disse aquilo porque algum colega já tinha debochado e, de uma forma doce quis me alertar para não repetir aquela atitude... O fato é que senti minhas orelhas queimando e com uma vontade imediata de ir embora. Realmente eu estava igual a um palhaço. Que ódio! Acho que se eu fosse a “Karry, a estranha” (se é que eu não era mesmo em aparência), teria feito aquela escola explodir com a força do pensamento...

Já na adolescência, teimava em ter o cabelo cacheado com gel (ridículo) e achar (mais ridículo ainda) que eu era gostosinho no colégio. Puberdade, conflitos de adolescentes, minha personalidade ia piorando no que se tratava um outro pecado: a vaidade. Ela alimentava, mesmo que indiretamente a minha inveja. Estava em outro colégio, com outros garotos bonitos, de boas condições. As meninas andavam atrás deles e eu, atrás delas. E deles. Querendo fazer parte de uma turma que me rejeitava a todo tempo. Então comecei a fazer coisas erradas. Fumei cigarro aos 13 anos escondido. Envolvi-me com as pessoas erradas do colégio e comecei a me tornar problemático. Como estava morando com minha madrinha, ela não tinha acesso às besteiras que eu fazia e nem as suspensões que tomei. Rs... Inclusive, ela saberá somente agora, junto com vocês, lendo esse post. Não tinha responsável legal que respondesse por mim. O risco de ser enviado ao Conselho Tutelar, nem passava pela minha cabeça, já que não conhecia sobre o assunto.

O segundo grau chegou e com a aparência um pouquinho melhor, consegui “ficar” com umas três meninas do colégio. Nessa época já tinha retomado minha responsabilidade com os estudos e voltei a me destacar pelas boas notas. Até que revelei ser virgem, aos 15 anos. De novo virei alvo de chacota de muitos e me bloqueei. Vivi dos 16 aos 18 anos uma vida sexual para ninguém por defeito, digna dos grandes trabalhadores da profissão mais antiga do mundo. Só não me prostitui, mas aprontei bastante (muito mais do que possam imaginar). Comecei outras descobertas sexuais que me fizeram viver situações que só contei até hoje para a minha analista (eu acho que é a única pessoa no mundo que sabe de tudo, exatamente tudo que fiz até hoje) Saudades das nossas sessões, Maggy. Acho que não conseguirei nunca conversar com ninguém como fiz com você.

Há pouco mais de um mês, estreou a novela “VERDADES SECRETAS”, escrita por Walcyr Carrasco. Essa novela, embora rechaçada por muitos, nada mais é do que o retrato velado de muita gente. A trama fala basicamente sobre o mundo da moda e o que as pessoas fazem para conseguir o que querem. Muitas não conhecem a palavra escrúpulos. A busca por uma aparência socialmente aceitável e sentimentos nada virtuosos compõem esse meu capítulo também. Exemplos ruins que a televisão dá? Não. Fumei o primeiro cigarro e me envolvi com a turma barra pesada da escola e resolvi por mim mesmo que aquele não era o meu caminho. A televisão não me deu esse exemplo. Pode até ser tendenciosa, mas nós, temos o livre arbítrio dado por Deus quando nos concebeu (ou quando evoluímos do macaco, herdamos seu instinto?) para decidir o que fazer. Teoria darwinista ou cristã, o fato é que qualquer decisão que tomemos está em nossas mãos. Ninguém te leva para o “mau caminho” se você não estiver pré-disposto a andar nele. Todos nós temos nossos segredos, que estão guardados a setes chaves. Sujos, impuros, ocultos. A sociedade é assim. As pessoas são assim, não sejamos hipócritas. Hoje as mesmas pessoas que falam em nome de Deus, são intolerantes com o próximo. Não sabem o significado da palavra amor, na sua essência. Se estas mesmas pessoas analisassem à risca os exemplos dados por Deus, estariam, no mínimo se autoflagelando para por em prática suas próprias condenações.

O trauma dos sapatos me fez ficar compulsivo por roupas e calçados. Hoje tenho quase 100 pares. Roupas... não tenho nem como contabilizar, realmente são muitas. Já me perguntaram se eu era uma centopeia por ter mais de 50 pares de meia e 60 cuecas. Mas constantemente tomo a mesma atitude que a tal senhora fez com a minha mãe: doo roupas e sapatos. Transformei a minha inveja e vaidade em catapulta para que conseguisse tudo que não tive. E que esses sentimentos pudessem refletir em boas atitudes e ajudar a quem, como eu no passado, precisa de pouco. Resolvi estudar mais e continuar chamando atenção dos outros. De outra forma. Me moldando ou adquirindo talentos para brilhar. Me formei, estou fazendo minha segunda especialização e resolvi por em pratica, paralelamente, um plano do passado: fazer teatro. Não há lugar melhor para se ter atenção. Gosto de passar e ser reparado. Deixar o meu perfume no ar. Ser elogiado. Confesso que hoje, isso acontece com muito mais frequência do que antes. E eu gosto. Na verdade, eu tenho uma luta diária com a minha vaidade e meu ego. Hoje sou maduro e entendo que eu não sou o único no mundo. E muitas das vezes esses elogios podem não vir. Posso passar despercebido. E não será por isso que vou fumar, me drogar, desmoralizar e expor a minha vida. As pessoas precisam umas das outras. Não onipotente como eu gostaria de ser. Preciso de carinho para ser uma pessoa melhor. Preciso que a sociedade me aceite e me respeite, minimamente. Para isso, preciso me adequar a certas convenções. Nem sempre a rebeldia é o melhor caminho. Não sou mais adolescente, embora continue problemático e cheio de conflitos. Ver e ler diariamente sobre o sofrimento alheio me faz entender que o que passei não foi nada perto de tantas desgraças que outras pessoas vivem. Que não sou nada.

A minha mudança toda foi pautada em uma tentativa incessante de me aprimorar. De me reinventar.  De ser feliz. E vou vivendo. Às vezes, até sem rumo, pois faço milhões de coisas ao mesmo tempo e muitas não tendo nada a ver umas com as outras. Mas vivo. E quando estiver mais velho vou dizer: vivi, amei e fui feliz. A vaidade está estampada nas minhas fotografias. Mas por debaixo delas e no “tal ao vivo” estão ainda a minha cicatriz e meu cabelo crespo, agora ralo pela calvície. Meu rosto, dá sinais dos meus 35 anos, quando a pele naturalmente vem perdendo seu viço.

Sabe o fio condutor da minha história? Aquele do começo? Ele está intrinsecamente estampado nesse relato. Sempre vivi por e para o amor. Sempre fui intenso. Agressivo. Louco. Vaidoso. Dramático. Histérico. Extremo. Quem me conhece sabe.  A maior dificuldade de todos nós é conseguirmos canalizar tudo isso para uma coisa boa. E tento diariamente buscar isso. Reconhecendo meus próprios erros e tentando, mesmo com insucessos, consertar o que fiz de errado. Respirar fundo e aceitar uma ordem sem contestá-la. Mergulhar com tubarões. Entrar em jaulas de leões e tigres. Fazer photoshop . Ir à praia e fazer marquinha de sunga. Ficar pelado na frente do espelho, ou mesmo na Marquês de Sapucaí, ao lado de corpos perfeitos, ligar o “foda-se” e me admirar com todos os meus defeitos. Aceitar minhas rugas, manchas, imperfeições e cicatrizes. Me abrir e me fechar. Abrir minhas verdades secretas por mais bobas que sejam e exorcizá-las. Pegar as outras que não prestam, mantê-las guardadas em uma caixa, pedir perdão a Deus, à Buda, à Oxalá, ou a quem creia e cremá-las.


E os detalhes das “VERDADES SECRETAS”, onde estão? Rs... Isso meus queridos leitores, talvez sejam publicados no meu livro da vida... No alto dos meus 70 anos quem sabe...