Em 31 de agosto de 1992, estreou a
novela do “horário das sete” Deus nos Acuda, escrita por Sílvio de Abreu e
dirigida pelo seu parceiro de longa data, Jorge Fernando, na Rede Globo . Eu
tinha 12 anos, recém-completados e já ouvia os burburinhos de corrupção do
Governo Collor. O então presidente, que iniciou seu mandato exatamente em 15 de
março de 1990 estava, na época de estreia da novela, já com seus dias contados
à frente da liderança da nação brasileira.
Fernando Collor foi o primeiro presidente eleito pelo
povo desde 1960, quando Jânio Quadros venceu a
última eleição direta para presidente antes do início do Regime
Militar, que perdurou até 1985. Seu afastamento em 2 de outubro de 1992, foi
consequência da instauração de seu processo de impeachment no
dia anterior, seguido por
cassação.
Para não me estender nessa narrativa, que é
extremamente importante, mas que ocuparia grande parte da minha história (que
neste capítulo tem muito mais o cunho de expor minha opinião como cidadão),
relembrar que, eram tempos difíceis, onde o novo (em todos os sentidos,
inclusive na idade) presidente, estava herdando uma inflação de dígitos, hoje
inacreditáveis para jovens de 20 e poucos anos, na ordem de 1.972,91%. A sua principal
plataforma de campanha era o combate a esse crescimento e durante seus poucos
dois anos de mandato, foi suficiente para fazer um belo estrago na vida de
muitos brasileiros. Quem dessa época, não lembra do confisco às cadernetas de
poupanças com depósitos bancários superiores a Cr$ 50.000,00 (cinquenta mil
cruzeiros) visando reduzir a quantidade de moeda em circulação? Mesmo sendo o
confisco bancário um flagrante desrespeito ao direito constitucional de
propriedade, o plano econômico conduzido pela então Ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello (sua prima) foi aprovado pelo Congresso Nacional em questão
de poucos dias. Foram muitos
escândalos envolvendo o governo, onde podemos citar que o estopim foi quando
Pedro Collor de Mello, irmão do presidente, revelou o esquema de corrupção que
envolvia o ex-tesoureiro da campanha Paulo César Farias, entre outros fatos comprometedores
para o presidente. Em meio à forte comoção popular, foi instaurada
uma CPI para apurar a responsabilidade do presidente sobre os fatos
divulgados. Em 2 de
outubro foi aberto o processo de impeachment na Câmara dos Deputados, impulsionado pela
maciça presença do povo nas ruas, como o famoso movimento dos “caras-pintadas”.
Preâmbulo longo não? Contudo,
importante para fazermos algumas alusões aos tempos que vivemos hoje. Precisarei fragmentar (e muito) a minha
narrativa, pois falar de política no Brasil é algo quase inconcebível de tantos
exemplos. Vejamos alguns:
Candidato com cara de anjo, parentes
no poder, fragilidades da sociedade como plataforma de campanha...
O que conquistou o eleitorado na
cidade do Rio de Janeiro para escolher como seu atual representante era o “rostinho
boa gente” de Marcelo Crivella (que graças a Deus consigo dormir tranquilo em
não ter dado meu voto a esse senhor), tal qual o “galã boa-praça” Collor. Em
seu primeiro mês, o referido prefeito (assim como Collor nomeou sua prima
Zélia, para uma das principais pastas do Governo – o Ministério da Fazenda),
intitulou seu filho, a quem chama carinhosamente de “Marcelinho”, como
secretário chefe da Casa Civil do município. Nomeação, que graças a um dos
raros momentos atuais de coerência do STF, foi suspensa com apoio da OAB/RJ.
Coincidência, não?
Saúde e Educação eram os carros
chefes de sua campanha, pautados em seu trabalho missionário na África do Sul e
sertão brasileiro, como então bispo da Igreja Universal (aquela presidida pelo
Bispo Macedo, quem vem a ser o líder religioso que iniciou seu império de
enriquecimento nos lendários cultos no Maracanã, de onde eram levados sacos
incontáveis de doações através de helicópteros e que vem a ser, por acaso, como
quem não quer nada, seu tio e um dos acionistas do A.J. Renner, detendo 47,51%
do capital social da instituição financeira, banco em que a prefeitura fechou
contrato para créditos consignados aos seus servidores para os próximos dois
anos). Pois bem, à menina dos olhos de sua campanha, foi destinado o corte de
verba (não era incentivo?) da bagatela de 547 milhões de reais, só para a pasta
da Saúde, no seu primeiro ano como gestor da cidade maravilhosa. Para esse
senhor precisaria escrever um livro apenas do primeiro ano de seu mandato sobre
todas as promessas não cumpridas ( e olha que já estamos no segundo ano!)
A poupança da Era Collor,
transformou-se na Reforma Trabalhista e Previdenciária da Era Temer...
Difícil falar de um representante
ilegítimo. Não foi eleito pelo povo, logo, não fará nada pelo povo. Como não
vem fazendo. Os jantares e apoios comprados e que são largamente divulgados na
imprensa (não só as ditas tendenciosas), até porque os seus assessores fazem
questão de divulgar a quantidade de dinheiro que é “investida” para a compra
desses apoios, dizem por si só. E o povo, que quase quebrou o país por causa do
aumento de R$0,25 nas passagens de ônibus, se cala diante do roubo de bilhões
da saúde, segurança e educação públicas. São escolas sem professores, hospitais
sem médicos e sem remédios, pessoas morrendo numa guerra sem fim. E nós? Nós
estamos sentados diante da emissora dita tendenciosa, consumindo seu produto e
nos colocando num patamar de soberania e inteligência, dizendo o que deveria ou
não ser feito nas redes sociais (tão somente nelas).
Nisso tudo, o que mais me espanta é o
ringue montado nas redes sociais para falar que “esquerda é isso, direita é
aquilo”. “Se você não apoia Temer, você defende o Lula ou a Dilma.” “Precisamos
de intervenção militar.” “Quem é contra isso ou aquilo tem mais é que se f...” “Tantos
morrem todos os dias, mas só porque era vereadora morreu que estão fazendo
alarde.” “Os traficantes e bandidos tomaram o poder no estado”. Dentre tantas
outras frases de efeito, cheias de razão e alimentadas por ódio. NÃO SOU DE
DIREITA,e NEM ESQUERDA E SOU APARTIDÁRIO. Importantíssimo frisar isso. Não sou a
favor de nenhuma ideologia, nem acho que Lula e Dilma são inocentes. Tenho a
consciência tranquila que não contribuo para o fortalecimento do tráfico, pois
eu não financio o produto que eles comercializam, como tantos que vomitam isso.
E, creiam, não estou aqui para julgar os esquerdistas, direitistas, usuários de
drogas ilícitas, estou aqui para contar uma resumidíssima parte do que EU VIVI
E VIVO como cidadão nesse país e não quero ser contraditório à luz das palavras
que profiro e do meu comportamento na sociedade.
A Constituição Federal me prevê
direitos e deveres. Meus deveres estão sendo cumpridos. E meus direitos estão
sendo tirados. São 27,5% da minha renda destinados ao IRRF. E esse dinheiro vai
para onde? Para os jantares em Paris dos senhores representantes da sociedade
brasileira, só para citar um debochado exemplo.
A abertura da novela “Deus nos Acuda”
que dá título a esse capítulo, mostrava há mais de 20 anos atrás, um país
afundado em lama, e retratava uma festa onde seus participantes eram os
representantes políticos de uma sociedade que tentava se reerguer. Achava, aos
meus 13 anos, que aquele era um recado aos políticos que viessem pós Collor,
que a sociedade brasileira pedia um basta e não iria se curvar mais diante de
tanta corrupção e impunidade. E hoje, escrevendo uma mínima parte de tudo isso que vivi e conto aqui, leio um noticiário revoltoso, onde aquele presidente que a sociedade
destituiu como seu representante, está de volta como candidato (EHH! Ponto para
a direita! Ou esquerda?). E é triste demais acreditar, que será possível ele
ter uma quantidade expressiva de votos. Queria sinceramente acreditar que o
ponto seria para a população, mas está difícil.
Meu texto é só meu, como todos os
outros que escrevo em minhas redes sociais. E por publicá-lo, tacitamente,
autorizo as pessoas a discordarem dele, criticarem e se posicionarem. Cada um
tem suas ideias e ideais e não estou aqui para convencê-los de nada. Estou para
desabafar. Como ser humano. Como cidadão brasileiro. Basta! Basta de
hipocrisia! Basta de intolerância! Basta de violência! Basta de corrupção!
Basta de querermos ser os donos da verdade. Vamos nos informar sobre fatos e
dados reais antes de propagarmos informações enganosas apenas para nos
mantermos no patamar da razão. O mundo precisa de tolerância. O Brasil precisa
de conhecimento, pesquisa e leitura. Sobre a verdade. Sobre hu-ma-ni-da-de. E
que Deus nos acuda...